quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Osun


Osun

“No tempo da criação, quando Òsun estava vindo das profundezas do òrun, Olódùmaré confiou-lhe o poder de zelar por cada umas das crianças criadas por Òrìsà que iriam nascer na terra. Òsun seria a provedora de crianças. Ela deveria fazer com que as crianças permanecessem no ventre de suas mães, assegurando-lhes medicamentos e tratamentos apropriados para evitar abortos e contratempos antes do nascimento; mesmo depois de nascida a criança, até ela não estar dotada de razão e não estar falando alguma língua, o desenvolvimento e a obtenção de sua inteligência estariam sob o cuidado de Òsun. Ela não deveria encolerizar-se com ninguém a fim de não recusar uma criança a um inimigo e dar a gravidez a um amigo. A tarefa atribuída a Òsun é como declaramos. Ela foi a primeira Ìyá-mi, encarregada de ser a Olùtójú awon omo (aquela que vela por todas as crianças) e a Álàwòyè omo (aquela que cura as crianças). Òsun não deve vir a ser inimigo de ninguém.”

O título de Ìyáalódé não é apenas de Òsun e Nàná, mas ao cabeça de cada comunidade Ìyálódé. A Ìyálódé reúne as mulheres para discussões públicas que lhes interessam. Antigamente elas possuíam escravos. A Ìyálódé representa todas mulheres de sua comunidade. Esse é o maior título honorífico que uma mulher pode receber e que a coloca automaticamente à cabeça das mulheres e da representação no àiyé o poder ancestral feminino. O abèbè, leque ritual, é seu emblema, símbolo da cabaça-ventre com o pássaro-procriação
ENQUANTO NA ÁFRICA, AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES SÃO CONSIDERADAS COMO CAMINHOS PERCORRIDOS POR OXUN COMO UMA ÚNICA ENTIDADE, NO BRASIL CONSIDERA-SE CADA “QUALIDADE” COMO SENDO UM ORIXÁ DIFERENTE E ASSIM, OXUN DEIXA DE SER UMA SÓ E DIFERENTES OXUNS, COMPONENTES DE UMA GRANDE FAMÍLIA SERÃO CULTUADAS DE ACORDO COM CADA DIFERENTE QUALIDADE. DESTA FORMA,:

OXUN IJUMÚ, CONSIDERADA A RAINHA DE TODAS AS OXUNS ESTÁ LIGADA AO ASPECTO DE YAMÍ AJÉ, OSTENTANDO, POR ISTO, O TÍTULO DE YALODE.
Oxun Ayalá teria sido mulher de Ogun com quem trabalhava na forja, acionando o fole para atiçar as brasas. Conta a lenda que o fole acionado por Oxun Ayalá produzia um som ritmado e muito agradável. Atraído por este som, Egun pôs-se a dançar diante da ferramentaria, atraindo um grande número de assistentes que por ali passavam. Encantados com o bailado de Egun os passantes lhe fizeram muitas oferendas de dinheiro, o que o deixou feliz e vaidoso. Ao saber que Egun estava ganhando dinheiro com sua apresentação, Oxun exigiu que metade da renda obtida fosse dividida com ela, caso contrário, não acionaria mais o fole que produzia o ritmo sem o qual Egun não poderia mais dançar. Sem alternativas, Egun teve que aceitar a exigência da Yagbá passando, a partir de então, a dividir com ela tudo o que ganhava em suas apresentações. Esta Oxun além de sua ligação com Ogun Alagbede tem sérios fundamentos com Egun.
OXUN ABALÚ, TAMBÉM CONHECIDA COMO OXUN ABOTÔ É CONSIDERADA COMO SENDO A MAIS VELHA DE TODAS. É MUITO CIUMENTA E ADORA RECEBER HORTÊNSIAS COMO OFERENDA. SUA LIGAÇÃO COM OMOLÚ O ORIXÁ DA PESTE, TIDO COMO O MÉDICO DOS POBRES, É NOTÁVEL E SEGUNDO DIZEM, ACOMPANHA ESTE ORIXÁ EM SUAS ANDANÇAS PELOS QUATRO CANTOS DO MUNDO.
Oxun Ipetú é a guardiã dos segredos insondáveis. Sobre esta Oxun pouco se sabe e nada se fala. A simples pronúncia de seu nome é revestida de muito respeito e considerada quase como um tabu.

Oxun Popolokun, também revestida de uma enorme aura de mistério, é cultuada em lagoas de águas profundas, onde estabelece a sua residência. Conta a lenda que esta Oxun costuma aprisionar em seu reino aqueles que se aventuram a mergulhar em suas águas.
Oxun Apará é a poderosa guerreira que acompanha Ogun em suas campanhas, porta um sabre que manipula com força e destreza. Esta Oxun tem fundamento com Yemanjá, de quem é filha e com quem costuma comer. Da mesma forma que Apará, Oxun Ipondá é guerreira e dona de
caráter irascível. Esta Oxun costuma formar, junto com Oyá, uma dupla de combatentes invencíveis.
Existe assim uma Oxun denominada Yeye Oloko, que habita nos mananciais d’água existentes no interior das florestas mantendo ligações fundamentais com Oxóssi e Ossain. Como vimos, Oxun representa a feminilidade em todos os seus diferentes aspectos. Seu charme e inteligência proporcionaram-lhe a possibilidade de ter sido, por escolha própria, esposa de inúmeros Orixás, com exceção de Obatalá, de quem seria a filha dileta e de Exu, com quem sempre manteve uma relação de amizade fraternal e cumplicidade. Como esposa de Orunmilá - Senhor e Patrono do Oráculo de Ifá – Oxun recebe o título de primeira Apetebí, dado até hoje às sacerdotisas do culto de Orunmilá e às esposas de seus sacerdotes, os babalaôs. Uma lenda narra de que forma Oxun, com o auxílio de Exu, roubou o segredo dos 16 signos do Sistema Oracular de Ifá, os 16 Odu-Meji, criando com isto um novo sistema divinatório, o jogo de búzios, proporcionando condições para que as mulheres pudessem proceder à adivinhação, o que anteriormente era exclusividade dos homens. Dentre as figuras do oráculo, destacamos o Odu Oxe Meji, através do qual Oxun se comunica com os seres humanos.
Uma outra lenda, ressaltando a astúcia de Oxun, narra que Xangô o poderoso Orixá do trovão possuía três esposas, Oyá, Obá e Oxun, sendo que a última era a sua favorita. Ansiosa por receber maiores atenções do marido, Obá pediu que Oxun lhe ensinasse o feitiço que havia feito para conquistar o coração de Xangô. Ardilosa e maldosamente a bela senhora orientou a concorrente para que cortasse uma de suas orelhas e que a servisse depois de cozida, como alimento ao marido. Obá, acreditando na sinceridade de Oxun, não hesitou em decepar a própria orelha e com ela preparar um belo prato, de acordo com o gosto de Xangô. Ao deparar-se com o alimento que a mulher lhe servia, Xangô, indignado, expulsou Obá do palácio real, terminado assim, com qualquer possibilidade de um dia vir a ser a sua favorita. A partir de então, Obá e Oxun tornaram-se inimigas irreconciliáveis, Em outra ocasião, Oxun apaixona-se por Oxóssi que vinha diariamente banhar-se nas águas do rio, no local exato em que ela morava. De todas as formas, tentava atrair o caçador para dentro do rio onde pretendia entregar-se a ele. Oxóssi, que não sabia nadar, embora atraído pela beleza de Oxun, não ousava arriscar-se na correnteza e, desta forma, o ato de amor não se consumava. Enlouquecida pela paixão, Oxun arquitetou um plano e fez com que Oxóssi comesse uma iguaria preparada à base de mel de abelhas. Exu foi encarregado de entregar à Oxóssi o doce feito por Oxun e, desta forma, após comer a deliciosa torta, Oxóssi, enfeitiçado, perdeu o sentido de perigo e, atirando-se às águas, deixou-se levar pelos encantos da bela senhora. Satisfeita em seu desejo, Oxun simplesmente abandonou o amante ao sabor da corrente e Oxóssi, sem saber nadar, sucumbiu, tragado que foi pelas águas do rio. Desta união, nasceu Logunedé, Orixá menino, que possui características do pai, atuando como caçador e vivendo dentro das matas durante um certo período e, noutro período, assumindo as características de sua mãe, vive da pesca e reside nas águas do rio. O culto à Oxun se destaca por características próprias e é na cadência do ritmo ijexá que ela se apresenta, espargindo o perfume da água-de-cheiro, dançando de forma sensual e maliciosa, envolvendo a todos na magia do bailado onde exalta todos os seus aspectos de deusa-mulher e contagiando de tal forma os presentes que, repentinamente, todos agitam os próprios corpos ao som irresistível dos atabaques, gans, agogôs e afoxés, como crianças embaladas pela magia dos cânticos da Grande Mãe. Esta é Oxun, a Deusa do Amor, a Senhora do Ouro e do Mel, a Rainha das Águas Doces, dos Rios e das Cachoeiras. Esta é Oxun, a Vênus Negra, nossa Mãe Transcendental, a quem saudamos efusiva e respeitosamente:
Ore Yeye ô!
Entre os povos do Caribe, por influência dos escravos negros, o culto aos Orixás se expandiu e, em Cuba, é conhecido como “Santeria”. Muitas são as lendas conhecidas naquele país que descrevem a trajetória dos Orixás tentando, sempre de forma alegórica, explicar sua relação com a natureza e com os seres humanos. Oxun, uma das mais importantes personagens do panteão afro-cubano, está ligada a diversos aspectos da natureza como as águas doces, as cachoeiras, o ouro, o mel e a reprodução das espécies. Representa a luta pela vida e pela sobrevivência. Deusa do amor e senhora dos cursos d’água, sua primeira manifestação teria ocorrido, segundo uma lenda, numa concha na beira de um rio. Segundo os povos do Caribe, Oxun é filha de Nanan e de Obatalá e gerou filhos ao acasalar-se com Obatalá, Orunmilá e Oxóssi. Com Orunmilá, gerou Poroyé, do sexo feminino. Com Odé gerou Logun Edé, Orixá masculino, mas, devido à sua delicadeza e infantilidade, visto como andrógino e, com Obatalá, gerou Olosá ou Oloxá, entidade feminina que vive tanto nas águas dos rios quanto nas águas do oceano. Sua relação sexual com Obatalá, seu pai, considerada como quebra de um tabu rigoroso, é o segredo contido nos itans de Ifá que se referem à uma relação incestuosa entre os Odus Ofun Meji e Oxe Meji, depois da qual Ofun, que sendo o mais velho dentre os dezesseis Odus de Ifá, cede sua primogenitura à Ejiogbe, passando, a partir de então, a ocupar o último lugar entre os Agba Odu ou Odu Meji. Oxun exercia entre os Orixás, o cargo de cozinheira e, exigindo deles uma possibilidade de participar de funções mais importantes, lançou sobre toda a criação uma maldição que impedia a continuidade da vida sobre a Terra. Para que tal praga fosse retirada exigiu uma posição de destaque entre os principais Orixás, obtendo, desta forma, o respeito e a submissão de Obatalá a quem provara representar o poder gerador feminino. Teria vivido com Ajagunan, Orixá Funfun de caráter belicoso, tendo abandonado sua companhia em decorrência da grande quantidade de igbíns que este Orixá comia e que sendo a representação viva do elemento água, é uma de suas maiores interdições. Uma das principais atribuições deste Orixá é cuidar do desenvolvimento dos seres humanos a partir da fecundação, função esta que exerce com muita dedicação, acompanhando o desenvolvimento do embrião, passando pelo período fetal e só entregando aos cuidados do seu próprio Orixá a criança que já possa reclamar a atenção de seus pais demonstrando de alguma forma, sua necessidades pessoais.
Além de Obatalá, Orunmilá, Oxóssi e Ajagunan, Oxun teria sido mulher de Ossain, Xakpanan, Xangô, Aganjú, Orixaoko e Inlé. Segundo afirmam, seu grande amor teria sido Oxóssi e sua união mais conveniente teria sido com Orunmilá, com quem adquiriu coroa e saber. Dentre os Orixás femininos, Oxun é a única que pode ouvir a palavra de Ifá, o “Orô Orunmilá”. Oxun é dona do mel e da doçura, possui um belo sorriso que muitas vezes utiliza para augurar um desastre que, propositadamente, provoca na vida de alguém através do seu poder de Iyamí Ajé, o mesmo poder utilizado para obter a importante posição que hoje ocupa, reconhecida até por Obatalá, o pai da criação. Oxun é amor, ternura, paixão, desejo e sexualidade, da mesma forma que é dor, pranto, ódio, vingança e castigo.
É a personificação do amor maternal e senhora do poder genitor feminino representado pelo sangue menstrual que é simbolizado pelas penas vermelhas “ekodidé”. Estas mesmas atribuições lhe conferem o poder de Iyamí Ajé, Senhora do Pássaro Oxorongá, símbolo do poder feiticeiro inerente à natureza feminina
Muitos Odus de Ifá possuem itans que falam especificamente sobre Oxun, destacando-se entre eles:


Em Ikadi, Oxun é desonrada por seu próprio pai.

Em Oxeturá obtém o reconhecimento de seus poderes de Ajé e é declarada chefe das mães ancestrais.

Em Irosunká é nomeada como a primeira Apetebí ao casar-se com Orunmilá. No mesmo Odu Oxun salva o mundo da destruição total.

Em Ofunkanran salva Omolú da morte.

Em Ejiogbe livra Oyá das garras dos inimigos.

Em Oxerosun, protege e salva o amor de Yemanjá e Ogun.

Assim é Oxun, doce veneno. Oxun, a fêmea ideal, o protótipo da mulher, perfeita em suas próprias imperfeições. Mãe dos homens, senhora, companheira, adversária e maior amiga. Mas Oxun representa principalmente e em toda a sua complexidade, a mulher, a maior, mais perfeita e completa criação de Deus, a obra prima da natureza.

ÀDÚRÀ OSUN

1. - Osun mo pé ó o!


2.- N’ò pé o s’Ikú eni kankan

3.- Béni n’ó s’árùn eni kankan,

4.- Mo pé ó níní owo.

5.- Mo pé ó sí níní omo,

6.- Mo pé ó sí níní aláfià.

7.- Mo pé ó sí òró.

8.- Kí àwa má ríjà ami o,

9.- Odoodún ní a mi orógbó.

10. - Odoodún ní mí obi lóri àte o,

11. - Odoodún ni ki wón ma rí wá o!

12. - Bi a se, èyi ju bàyi lo, ni àmódún.

13. - Òsun só wá, ki o máà sí wàbálà lárín àwa omo ré.

14. - Kí ilé má jò wá.

15. - Kí òna má nà wa o.

16. - Pèsè àse fún wá o.

17. - Eni ase àmódi ara.

18. - Fun ní àláfià o.


19. - Okó oba, àdá oba, kí ó ma sá wa lèsè o.

20. - Kí àwa má rí Ogun idilé!

TRADUÇÃO:


1.- Oxun eu te chamo

2.- Não te chamo por causa da morte,

3.- Não te chamo por causa da doença de alguém.

4.- Eu te chamo para que tenhamos dinheiro.

5.- Eu te chamo para que tenhamos filhos.

6.- Eu te chamo para que tenhamos saúde.

7.- Eu te chamo para que tenhamos uma vida serena.

8.- Para que não sejamos vitimados pela ira das águas.

9.- Dizem que anualmente há orobôs na feira.

10. - Dizem que anualmente há obís novos na feira.

11. - Que as pessoas nos vejam todo o ano.

12. - Do mesmo modo que fizemos tua festa, que possamos fazer outra melhor, no próximo ano.

13. - Oxun, nos proteja, para que não haja problemas entre nós, teus filhos.

14. - Para que haja paz em nosso lar.

15. - Que nossos objetivos não se voltem contra nós.

16. - Dá-nos axé!

17. - À quem estiver doente,

18. - Dá saúde!

19. - Que as leis dos homens não sejam infringidas por nós.


20. - Que não haja problemas em nossa família!

Asé

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